segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Carro popular: a mentira brasileira.

Imagine que o seu "carro popular”, “completo”, dê uma pane no ar-condicionado, no vidro elétrico e no interruptor do freio de garagem — três defeitos coincidentes (?).
A quilometragem do automóvel está em 34.103 — 3.103km após a última revisão programada feita na mesma concessionária que o vendeu e sempre o repara.
O carro está com 4 anos de uso moderado e toda a manutenção em dia, feita com peças originais e mão-de-obra especializada — treinada pela montadora.
Orçamento: R$4.147,24; com 10% de desconto: R$3.770,22.
Por que? É simples: o condicionador de ar fica mal localizado no mesmo compartimento que abriga o motor e, para se ter acesso a esse equipamento, há necessidade de desmontar vários sistemas — inclusive painel e direção do veículo. Com isso outros problemas, antes imperceptíveis, aparecerão — ou serão provocados pela inevitável desengrenagem fabril que permitirá o conserto a ser cobrado por hora trabalhada.
Você se emputece, reclama, diz que é cliente há mais de 20 anos, etc. Dão-lhe o desconto dito máximo (R$1.070,22) e o orçamento cai para R$2.700. Você concorda com o serviço por dois motivos lógicos do desespero: 1º) É a manutenção de um "investimento" e 2º) Você está no local habilitado e autorizado para resolver o problema de modo definitivo, evitando assim uma depreciação ainda maior do bem.
Não tem jeito: você está diante de uma "sinuca de bico". Ou, parafraseando o Oscar Niemeyer: ...por enquanto, só usa carro quem tem dinheiro, os outros estão fodidos ai nas vielas! (http://www.youtube.com/watch?v=3LdoT-XDnLk)
Dois mil e setecentos Reais são quase 10% de um “popular” zero e beiram os 20% do valor do seu carro com quatro anos de fabricação.
O que há de popular em um “carro popular”?
A fragilidade das peças que o compõem?
Lembre-se que um “popular” tem apenas 1 (um) ano de garantia. No caso do Mille Fire da Fiat (aqui tratado) você pode
estenter essa “benesse” por somente um ano, contudo, alguns itens cobertos pelo certificado original não o serão pelo “contrato de proteção” que lhe apresentarão impreterivelmente no dia do aniversário do italianino. Detalhe: você é acuado ao prolongamento (mais um prêmio a pagar) porque não confia na qualidade dos componentes de um “carro popular”.
Quando se compra um automóvel não há como negligenciar um seguro mínimo (pelo menos a terceiros), nem olvidar-se da surpresa do licenciamento futuro — as concessionárias embutem o emplacamento e você perde a noção desse custo que aparecerá majorado no ano vindouro.
O seguro dos “populares”, em proporção, são altos; dependem da média de ocorrências contra determinado modelo que, para chegar mais barato ao mercado, tem equipamentos antifurto e anti-roubo em pouquíssimo apreço pelas montadoras — um dispêndio aos incautos compradores que ou pagam pelo alarme ou pela prenda à seguradora.
Não há benefício algum na aquisição de um “popular”: se você só o utiliza na cidade, ele consome muito combustível e desgasta-se com mais facilidade; se a estrada é a sua meta, tudo bem, mas não há motor de 1.000 cilindradas que garanta, pelo menos, uma ultrapassagem segura ou confortabilidade no guiar.
O “carro popular” é o modo mais agressivo de enganar o consumidor brasileiro “equilibrando” as contas do governo, dos bancos e, por fim, das montadoras — um trambique institucionalizado e solenizado. E só você estará por muito tempo no vermelho — e mais...e mais vermelho...pela raiva de ser vítima da fraude!

É o assalariado, a moda estatística da classe média, quem paga, por essas vias tortuosas e maquiadas, as contas do país. E não há escapatória, nem do Leão, nem do Bicho Papão* — ambas feras do zoológico da Receita Nacional.
Crise econômica internacional é pinto diante do caos que se vive no Brasil: compramos merda para entulhar no porão, esquecendo que, desidratada, ela perde massa; portanto; não estabiliza embarcação alguma.
Ou seja: cocô não serve como lastro!



Nota fiscal: folha 01

Nota fiscal: folha 02

Nota Fiscal: folha 03
As imagens são ampliáveis e comprovam o que o texto relata. O caso ocorreu em uma concessionária Fiat em Belém do Pará, mas se repete a todo momento pelos quatro cantos deste país com todos os cidadãos que se endividam com financiamentos para suprir o que os impostos (incluídos o IPI e o ICMS dos "populares") deveriam propiciar: um transporte público dígno. O "carro popular" é a "bolha econômica" que só estoura no bolso do brasileiro da mais miserável das classes: a média.
PS.: O reparo foi executado com competência pela concessionária e, conforme a nota fiscal postada em suas três folhas, alguns itens têm garantia entre um ano e três meses. Quantas fadigas surgirão no futuro próximo? Não confiamos mais no que seja ordinário! A questão não é direcionada a marca, modelo, ou concessionária; mas a sordidez do conceito "carro popular": TOTALMENTE IMORAL.

Motor com 1000 cilindradas: potência sem custo benefício para o voraz consumidor que, endividando-se, garante o recolhimento de impostos, o faturamento dos bancoes e a sobrevivência da indústria automobílistica brasileira.


*Bicho Papão, no texto, é o imposto compulsório "invisível" à grande maioria dos contribuintes brasileiros.

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